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O Meu Último Poema

Assim eu queria o meu último poema,

Um que eu soubesse te trazer de novo,

Mas que nunca seria eu a te mostrar

 

Assim eu queria me desfazer de toda poesia manipuladora,

Em versos fortes

Que impactassem a sua calma 

E que te voltasse em mim 

De tal modo que eu me desprendesse de todas as palavras,

Pois rimas eu nunca tive o dom,

E sabendo ser a poesia o seu ponto mais franco,

Queria eu nunca mais utiliza-la

Pelo meu egoísmo único e fraco,

Puro,

De não saber te querer longe de tudo o que os meus dedos nomeiam.

 

Assim eu queria você,

De tal modo que eu te tivesse  o dom

E sem nunca mais precisar me armar de versos tão covardes

Só para te fazer ficar

Depois que eu já te perdido mil vezes 

 

E assim eu faria o meu último poema

Com tal sinceridade

Que se pra sempre eu fosse saudade

A tua presença não viesse mais calhar,

Pois por mais calados que os meus dedos fossem,

Palavra nenhuma te fariam esvaziar

E poesia alguma te faria ficar.

 

Assim eu queria você

Já tão enfurecida de tanta poesia 

Que a solenidade da sua calma 

Te bastasse 

 

E que os meus últimos versos,

Por ti até pobremente rimassem, 

Mas que na sequência 

Fossem mudos da vaidade

Com que te prendo a mim 

Pelo medo de que a sua felicidade

Nunca mais me encontre

E que eu me veja só.

 

Por tantas palavras desperdiçadas

Quando a memória de toda a sua bondade 

É o que me faz cantar 

Pela ínfima tolerância de não poder ficar 

Sem a esperança com que penso 

Ser você

A razão 

De toda falta de sentido 

Com quem vivo.

Assim queria um último poema, 

Que te trouxesse tão fortemente a mim

Que você soubesse estar livre,

Pois o poema seria o último, 

E então você saberia poder ficar,

Sem medo, 

De toda poesia que te entrelaça,

Aproxima 

E aprisiona.

E eu saberia ser a última 

Com quem eu deveria me preocupar.

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